Ateísmo

Ateísmo

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Ateísmo, num sentido amplo, é a rejeição ou ausência da crença na existência de divindades e outros seres sobrenaturais.[1] O ateísmo é contrastado com o teísmo,[2][3] que em sua forma mais geral é a crença de que existe pelo menos uma divindade.[3][4][5][6] Num sentido mais restrito, o ateísmo é precisamente a posição de que não há divindades.[7]
O termo ateísmo, proveniente do grego clássico ἄθεος (transl.: atheos), que significa "sem Deus", foi aplicado com uma conotação negativa àqueles que se pensava rejeitarem os deuses adorados pela maioria da sociedade. Com a difusão do pensamento livre, do ceticismo científico e do consequente aumento do criticismo à religião, a aplicação do termo foi reduzida em seu escopo. Os primeiros indivíduos a identificarem-se como "ateus" surgiram no século XVIII.[8]
Os ateus tendem a ser céticos em relação a afirmações sobrenaturais, citando a falta de evidências empíricas. Os ateus têm oferecido vários argumentos para não acreditar em qualquer tipo de divindade. Estes incluem o problema do mal, o argumento das revelações inconsistentes e o argumento de descrença. Outros argumentos do ateísmo são filosóficos, sociais e históricos. Embora alguns ateus adotem filosofiasseculares,[9][10] não há nenhuma ideologia ou um conjunto de comportamentos a que todos os ateus aderem.[11] Na cultura ocidental, assume-se frequentemente que os ateus são irreligiosos embora outros ateus sejam espiritualistas.[12] Ademais, o ateísmo também aparece em certos sistemas religiosos e de crenças espirituais, como o jainismobudismo e hinduísmo. O jainismo e algumas formas de budismo não defendem a crença em deuses,[13] enquanto o hinduísmo mantém o ateísmo como um conceito válido, mas difícil de acompanhar espiritualmente.[14]
Como as conceções sobre o ateísmo variam, é difícil determinar quantos ateus existem no mundo atualmente.[15] Segundo uma estimativa, cerca de 2,3% da população mundial descreve-se como ateia, enquanto 11,9% descreve-se como não-religiosa.[16] De acordo com outra estimativa, as taxas de ateísmo auto-relatado são mais altas em países ocidentais, embora também varie bastante em grau — Estados Unidos (4%), Itália (7%),Espanha (11%), Reino Unido (17%), Alemanha (20%) e França (32%).[17]

Desde 1900

O ateísmo no século XX, particularmente na forma de ateísmo prático, avançou em muitas sociedades. O pensamento ateu encontrou reconhecimento em uma ampla variedade de outras filosofias mais amplas, como o existencialismo, o objetivismo, o humanismo secular, oniilismo, o positivismo lógico, o anarquismo, o marxismo, o feminismo[96] e o movimento científico e racionalista geral.
O positivismo lógico e o cientificismo pavimentaram o caminho para o neopositivismo, a filosofia analítica, o estruturalismo e o naturalismo. O neopositivismo e a filosofia analítica descartaram o racionalismo clássico e a metafísica em favor do empirismo estrito e do nominalismoepistemológico. Proponentes como Bertrand Russell, rejeitaram enfaticamente a crença em Deus. Em seus primeiros trabalhos, Ludwig Wittgenstein tentou separar a linguagem metafísica e sobrenatural do discurso racional. A. J. Ayer afirmou a inverificabilidade e a falta de sentido das afirmações religiosas, citando a sua adesão às ciências empíricas. Relacionado com esta ideia, o estruturalismo aplicado de Lévi-Strauss ligou a origem da linguagem religiosa ao subconsciente humano ao negar o seu significado transcendental. J. N. Findlay e J. J. C. Smart argumentaram que a existência de Deus não é logicamente necessária. Naturalistas e monistas materialistas, tais como John Dewey, consideravam o mundo natural como a base de tudo, negando a existência de Deus ou a imortalidade.[37][97]
O século XX também assistiu ao avanço político do ateísmo, estimulado pela interpretação das obras de Marx e Engels. Após a Revolução Russa de 1917, houve mais liberdade religiosa para as minorias religiosas, o que durou alguns anos. Embora a Constituição Soviética de 1936 garantisse a liberdade para realizar cultos, o Estado soviético, sob a política deEstado ateu de Stalin, não considerava a religião um assunto privado; o governo soviético ilegalizou o ensino religioso e promoveu campanhas para convencer as pessoas a abandonar a religião.[98][99][100][101][102] Diversos outros estados comunistas também se opuseram à religião e promoveram o ateísmo estatal,[103] incluindo os antigos governos socialistas daAlbânia,[104][105][106] e, atualmente, da China,[107][108] Coreia do Norte[108][109] e Cuba.[108][110]
Outros líderes como E. V. Ramasami Naicker (Periyar), um proeminente líder ateu da Índia, lutaram contra o hinduísmo e os brâmanes por eles discriminarem e dividirem as pessoas em nome de castas e religião.[111] Tal foi sublinhado em 1956, quando ele erigiu uma estátua representando um deus hindu em uma representação humilde e fez declaraçõesantiteístas.[112]
Richard Dawkins em 2008, um dos mais influentes ateus da atualidade.
Em 1966, a revista Time perguntava: "Deus está morto?",[113] em resposta ao movimento teológico Morte de Deus, citando a estimativa de que quase metade de todas as pessoas no mundo viviam sob um poder anti-religioso e milhões mais na ÁfricaÁsia e América do Sulpareciam não ter conhecimento sobre o Deus único.[114]
Em 1967, o governo albanês de Enver Hoxha anunciou o fechamento de todas as instituições religiosas no país, declarando a Albânia o primeiro estado oficialmente ateu,[115] embora a prática religiosa na Albânia tenha sido restaurada em 1991. Estes regimes acentuaram as associações negativas do ateísmo, especialmente onde o sentimento anticomunista era forte, como nos Estados Unidos, apesar do fato de que ateus proeminentes serem anticomunistas.[116]
Desde a queda do Muro de Berlim, o número de regimes ativamente anti-religiosos tem diminuído consideravelmente. Em 2006, Timothy Shah do Fórum Pew constatou "uma tendência mundial em todos os grandes grupos religiosos, na qual movimentos baseados em Deus e na fé, em geral, estão experimentando confiança e influência crescentes face aos movimentos e ideologias seculares".[117] No entanto, Gregory S. Paul e Phil Zuckerman consideram isso um mito e sugerem que a situação real é muito mais complexa e matizada.[118]
A motivação religiosa dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 e as tentativas parcialmente bem-sucedidas do Discovery Institutepara mudar o currículo de ciências das escolas estadunidenses para incluir ideias criacionistas, juntamente com o apoio dessas ideias pelo ex-presidente George W. Bush em 2005, desencadearam uma onda de publicações de conhecidos autores ateus como Sam HarrisDaniel C. DennettRichard DawkinsVictor J. Stenger e Christopher Hitchens, cujas obras foram best-sellers nos Estados Unidos e em todo o mundo.[119]
Um levantamento de 2010 descobriu que aqueles que se identificam como ateus ou agnósticos estão, em média, mais bem informados sobrereligião do que os seguidores das religiões principais. Descrentes tiveram melhores pontuações respondendo a questões sobre os princípios centrais das fés protestante e católica. Apenas fiéis mórmons e judeus tiveram tão boas pontuações sobre religião quanto os ateus e agnósticos.[120]
Ateísmo 3.0 é um movimento dentro do ateísmo que não acredita na existência de Deus, mas que diz que a religião tem sido benéfica para os indivíduos e para a sociedade, e que eliminá-la é menos importante do que outras coisas que precisam ser feitas.[121][122]